Cleantes de Assos
Cleantes de Assos | |
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Nascimento | 331 a.C. Assos |
Morte | 232 a.C. (98–99 anos) Atenas |
Cidadania | Assos |
Ocupação | filósofo, pugilist, escritor |
Obras destacadas | Hymn to Zeus |
Movimento estético | estoicismo |
Cleantes de Assos (Assos, Ásia Menor, ca. 330 a.C. — ca. 230 a.C.), em grego: Κλέανθης, Kléanthēs, foi um filósofo estoico, discípulo e continuador de Zenão de Cítio como segundo escolarca (líder da academia) da escola estoica de Atenas[1]. Tendo iniciado o estudo da filosofia aos 50 anos de idade, depois de ter sido atleta e apesar de viver na pobreza, seguiu as lições de Zenão de Cítio e após a morte deste, cerca do ano 262 a.C., assumiu a liderança da escola, cargo que manteria por 32 anos, preservando e aprofundando as doutrinas do seu mestre e antecessor. Desenvolveu novas ideias no campo da física estoica e desenvolveu o estoicismo de acordo com os princípios do materialismo e do panteísmo. Entre os fragmentos existentes dos seus escritos, o mais significativo é um Hino a Zeus. Foi seu pupilo e sucessor Crisipo de Solis, que se revelaria um dos mais importantes pensadores estoicos.
Biografia
[editar | editar código-fonte]Cleanto nasceu em Assos, uma cidade mercantil da península da Tróade, por volta do ano 330 a.C..[2] Ainda de acordo com Diógenes Laércio,[3] Cleanto seria filho de Phanias, e na sua juventude fora boxer. Teria chegado a Atenas com apenas quatro dracmas em sua posse, mas ainda assim resolveu, aos 50 anos de idade, aprender filosofia, ouvindo primeiro as lições de Crates, o Cínico,[4] optando depois pelas lições de Zenão de Cítio, o Estoico.
Para se manter em Atenas tinha de trabalhar durante a noite, carregando água para um horticultor (daí a alcunha de em grego: Φρεάντλης (Preantles ou o Carregador da Água do Poço) pela qual era conhecido). Como passava todo o dia a estudar e a debater filosofia, não se lhe conhecendo fortuna, foi intimado a comparecer perante o Areópago para justificar a origem dos seus meios de subsistência: apresentou então o testemunho do seu empregador e de uma mulher para a qual carregava farinha, ficando os juízes de tal forma convencidos da sua honestidade que lhe votaram um subsídio de 10 minae, que Zenão não permitiu que aceitasse. A sua paciência e capacidade de aceitar as dificuldades, ou talvez a sua lentidão e teimosia, levaram a que os colegas estudantes o apelidassem de "o Burro", o que aceitou com bonomia, já que tal tinha implícito "que o seu lombo era suficientemente robusto para aceitar tudo o que Zenão sobre ele quisesse lançar.
Tal era a estima em que era tido, que em 262 a.C., quando Zenão faleceu, foi escolhido para liderar a escola, passando a ocupar o lugar do seu mestre. Apesar disso, continuou a a ganhar a vida com o trabalho das suas mãos, aliando o trabalho manual ao labor intelectual. Entre os seus alunos estava o seu sucessor, o filósofo Crisipo, e o futuro rei Antígono Gónatas, de quem aceitou uma oferta de 3 000 minas na sua velhice. Terá falecido com 99 anos de idade, c. 230 a.C..[2] A causa do falecimento terá sido uma úlcera péptica que o obrigou a jejuar durante vários dias: quando os médicos lhe disseram que podia voltar a comer, ele decidiu continuar a abstinência, afirmando que na sua idade, tendo já feito metade do caminho para a morte, não lhe interessava repetir os passos dados. Faleceu poucos dias depois.[3]
Simplício, escrevendo no século VI, menciona que uma estátua de Cleanto, erigida pelo Senado de Roma, ainda estava visível em Assos.[5]
Pensamento
[editar | editar código-fonte]Cleanto foi uma importante figura no desenvolvimento da filosófico do estoicismo, deixando uma importante marca pessoal nas especulações da escola em matéria de física, dando coerência à física estoica, e introduzindo o materialismo no pensamento estoico, o que contribui para a unidade do sistema de pensamento daquela escola filosófica.[6] Escreveu cerca de meia centena de obras, das quais apenas sobreviveram alguns fragmentos e citações por outros autores, tais como Diógenes Laércio, Estobeu, Cícero, Séneca e Plutarco.
Notas
- ↑ Diógenes Laércio, A vida de Cleanto, traduzido para inglês por Robert Drew Hicks (1925).
- ↑ a b De acordo com Apolodoro, como citado por Filodemo, Cleanto nasceu quando Aristófanes era arconte (331/330 a.C.) e faleceu quando Jason ocupava aquele cargo (230/229 a.C.). Pseudo-Luciano, Valério Máximo e Censorino dizem que Cleanto viveu atá aos 99 de idade (embora Diógenes Laércio afirme que faleceu aos 80 anos). Para mais informação veja-se a obra de Tiziano Dorandi, Chapter 2: Chronology, in Algra et al. (1999) The Cambridge History of Hellenistic Philosophy, p. 38. Cambridge. Dorandi prefere a idade de 101 anos.
- ↑ a b Diógenes Laércio, As Vidas e Opiniões de Filósofos Eminentes, vii.
- ↑ Suda, Cleantes
- ↑ Simplício, Comentário sobre o Enquirídio de Epiteto.
- ↑ Davidson 1907, p. 27.
Referências
[editar | editar código-fonte]- Davidson, William Leslie (1907), The Stoic Creed, Clark
- Hicks, Robert Drew (1910), Stoic and Epicurean, C. Scribner
- Stock, St. George William Joseph (1908), Stoicism, Constable
- Hume, David, Dialogues Concerning Natural Religion, obra em que "Cleanthes" é uma das personagens
- Meijer P. A., (2008), Stoic theology. Proofs for the existence of the cosmic god and of the traditional gods. Including a commentary on Cleanthes' Hymn on Zeus. Delft, Eburon.
- Pearson, A., (1891), Fragments of Zeno and Cleanthes (textos em grego e latim com comentário em inglês).
- Thom, J., (2005), Cleanthes' Hymn to Zeus: Text, Translation, and Commentary. Mohr Siebeck (ISBN 3-16-148660-9).
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Diógenes Laércio, A vida de Cleanto, traduzido para inglês por Robert Drew Hicks (1925).